(Kátia Borges)
Uma casa constrói-se ao lado dum caminho.
Vieira Calado
Vivia em conserto, a casa antiga.
Mudavam as telhas, compravam madeira,
ajeitavam a cumeeira, renovavam as ripas.
A casa antiga, apenas 25 metros quadrados,
tudo que restara do passado e da família,
na vila, na vida. E não havia outro modo
de ter um teto. Feito enxurrada,
mais e mais trocados iam na reforma.
E as janelas caindo, o beiral carcomido,
o caibro, a terça o pendural. E pedreiros
visitando lojas, carros cheios de tijolos,
meio tortos, e a casa antiga. De nada adiantava
pintar as paredes e portas, pôr cores mais sóbrias,
caprichar nas tintas. A cada chuva, o mofo
parecia brotar do invisível, esparramando, negro,
venenoso visgo, a engolir todo o esforço,
o projeto de mudança, o viço.
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