sexta-feira, 3 de junho de 2011

NENHUMA FERIDA
(Fabrício Carpinejar)

Nenhuma ferida
separava teus pesadelos.
Quando vagaste em meia-idade 

pela selva escura, fiquei
a conversar com tuas camisas,
aprumando boinas 

que afogavam os cabelos.
Tinha sete anos ao certo
e uma lua vadia disputando 

corridas comigo.
Fiquei a entreter
os tecidos alinhados, 

como um exército em revista,
procurando convencer
uma peça ao menos 

a delatar tua deserção.
Quando vagaste em meia-idade
pela selva escura, fiquei

alimentando o aquário
das gravatas.
Pedia privacidade às traças.

Vestia tua camisa,
copiando o ritmo
dos teus traços, 

a respiração copiosa,
sendo meu próprio
e definitivo pai. 

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