quarta-feira, 6 de julho de 2011

ENXÚDIA
(Clarissa Macedo)

É assim: 
a gente chega 
despreparado pra vida 
e recebe dela
um açoite, 

com outra mão numa faca
sangramos 
até o crepúsculo 
e nele
exaustivamente 
arquejados 
violentamos 
o ventre,  
esmeril de sons 

Sacrificantes de tormentos 
esgotamos suprimentos
e as preces em latim 
não saciam mais 

palpitamos até a morte
e renascemos. 

Amamos, derretemos 
e cinzamos na fogueira 
das bruxas de palha sul, 
preciosas e pensantes maçãs. 

Pleiteamos o gozo, 
logramos a náusea
e contando ensurdecedoramente 
os tics na parede vã, 
quase rebentamos 
num tiritar infindo 
para algumas horas 
além, 
seta implacável, 
emoldurar o tigre empalhado. 

É assim,
os matizes da dor
cessar-se-ão
ao fugir dos vagões
em vento tufônico
carregando as caixas lacradas 
presentes de fita verde

Contagem da bomba relógio. 
É o que diz a veia 
titânica
fulgente como o mel, 
ouro gasoso


Esta poeta integra o projeto Sangue Novo

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