ENXÚDIA
(Clarissa Macedo)
É assim:
a gente chega
despreparado pra vida
e recebe dela
um açoite,
com outra mão numa faca
sangramos
até o crepúsculo
e nele
exaustivamente
arquejados
violentamos
o ventre,
esmeril de sons
Sacrificantes de tormentos
esgotamos suprimentos
e as preces em latim
não saciam mais
palpitamos até a morte
e renascemos.
Amamos, derretemos
e cinzamos na fogueira
das bruxas de palha sul,
preciosas e pensantes maçãs.
Pleiteamos o gozo,
logramos a náusea
e contando ensurdecedoramente
os tics na parede vã,
quase rebentamos
num tiritar infindo
para algumas horas
além,
seta implacável,
emoldurar o tigre empalhado.
É assim,
os matizes da dor
cessar-se-ão
ao fugir dos vagões
em vento tufônico
carregando as caixas lacradas
presentes de fita verde
Contagem da bomba relógio.
É o que diz a veia
titânica
fulgente como o mel,
ouro gasoso
Esta poeta integra o projeto Sangue Novo
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