segunda-feira, 15 de agosto de 2011


A CRIANÇA
(Castro Alves)
 
Que veux-tu, fleur, beau fruit, ou l'oiseau merveilleux?
           Ami, dit l'enfant grec, dit l'enfant aux yeux bleus,
                                         Je veux de Ia poudre et des balles.
                                                VICTOR HUGO (Les Orientales)

Que tens criança? O areal da estrada
Luzente a cintilar
Parece a folha ardente de uma espada.
Tine o sol nas savanas. Morno é o vento.
À sombra do palmar
O lavrador se inclina sonolento.

É triste ver uma alvorada em sombras,
Uma ave sem cantar,
O veado estendido nas alfombras.
Mocidade, és a aurora da existência,
Quero ver-te brilhar.
Canta, criança, és a ave da inocência.

Tu choras porque um ramo de baunilha
Não pudeste colher,
Ou pela flor gentil da granadilha?
Dou-te, um ninho, uma flor, dou-te uma palma,
Para em teus lábios ver
O riso — a estrela no horizonte da alma.

Não. Perdeste tua mãe ao fero açoite
Dos seus algozes vis.
E vagas tonto a tatear à noite.
Choras antes de rir... pobre criança!...
Que queres, infeliz?...
— Amigo, eu quero o ferro da vingança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário