sexta-feira, 19 de agosto de 2011


DURANTE UM TEMPORAL
(Castro Alves)

VAI FUNDA a tempestade no infinito,
Ruge o ciclone túmido e feroz...
Uiva a jaula dos tigres da procela
— Eu sonho tua voz —

Cruzam as nuvens refulgentes, negras,
Na mão do vento em desgrenhados elos...
Eu vejo sobre a seda do corpete 
Teus lúbricos cabelos ...

Do relâmpago a luz rasga até o fundo
Os abismos intérminos do ar...
Eu sondo o firmamento de tua alma,
À luz de teu olhar ...

Sobre o peito das vagas arquejantes
Borrifa a espuma em ósculos o espaço...
Eu — penso ver arfando, alvinitentes,
As rendas no regaço.

A terra treme... As folhas descaídas
Rangem ao choque rijo do granizo
Como acalenta um coração aflito,
Como é bom teu sorriso,....

Que importa o vendaval, a noite, os euros, 
Os trovões predizendo o cataclismo...
Se em ti pensando some-se o universo 
E em ti somente eu cismo...

Tu és a minha vida ... o ar que aspiro ...
Não há tormentas quando estás em calma. 
Para mim só há raios em teus olhos,
Procelas em tua alma!

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