quinta-feira, 30 de junho de 2011

O DESGOSTO DO MEDÊRO
(Patativa do Assaré)

Ô Joana este mundo tem 
Sugeito com tanta faia
Que quanto mais qué sê bom 
Mais no êrro se escangaia, 
Istuda mais não prospera
E pra sê burro de vera 
Só farta levá cangaia

Ô Joana, tu já deu fé, 
Tu já prestou atenção, 
Que tanta gente que tinha 
Com nós boa relação 
Anda agora deferente 
Sem querê sabê da gente 
Pru causa das inleição?

Óia Joana, o Benedito 
Que era camarada meu 
Anda agora todo duro 
Sem querê falá com eu 
Na maió intipatia
Pruquê vota em Malaquia 
E eu vou votá no Romeu.

Se ele vota em Malaquia 
E eu no Romeu vou votá 
Cada quá tem seu partido 
Isto é munto naturá. 
Disarmonia não traz
E este motivo não faz 
Nossa relação cortá.

O Zé Lolo que me vendo 
Brincava e dizia trova 
Anda todo infarruscado 
Com certa manêra nova 
Sem morá e ingnorante, 
Com a cara do istudante 
Que não passou pela prova.

Ô meu Deus, nunca pensei 
De vê o que agora tô vendo, 
Joana, basta que eu lhe diga 
Que até mesmo o Zé Rozendo 
Anda falando grossêro
Não fala mais no dinhêro 
Que ele ficou me devendo.

Pra que tanta deferença, 
Pra que tanta cara estranha? 
O mundo intêro conhece
Que quando chega a campanha 
Tudo alegre pega fôgo, 
Inleição é como o jôgo
Quem tem mais ponto é quem ganha.

Ô meu Deus como é que eu vivo 
Sem tê comunicação?
Ô Joana, só dá vontade 
De sumi num sucavão 
Pra ninguém me aborrecê 
E somente aparecê 
Quando passá as inleição

— Medêro, não seja tolo 
Pruquê você se aperreia? 
Tudo isto é gente inconstante 
Que sempre fez ação feia,
É gente que continua 
Na mesma fase da lua, 
Crescente, minguante e cheia.

— Medêro, não entristeça 
Você não vai ficá só
O que fez o Benidito 
Zé Rozendo e Zé Loló 
Eu sei que foi munto ruim 
Porém se os home é assim 
As muié são mais pió.

— Medêro, tanta muié 
Que dizia a todo istante: 
Como é que tu vai Joaninha? 
Todo fôfa e elegante,
Pruquê voto no Romeu 
Agora passa pru eu
Com a tromba de elefante.

Eu onte vi a Francisca 
A Ginuveva e a Sofia 
Dizendo até palavrão 
Com Filismina e Maria, 
No maió ispaiafato
Pro causa dos candidato 
O Romeu e o Malaquia

Tu não vê a Zefa Peba, 
Que é até colegiá? 
Nunca mais andou aqui 
E agora vou lhe contá 
O que ela já fez comigo 
Que até merece castigo 
Mas eu vou lhe perdoar

A Zefa Peba chegou 
Reparou e não vendo eu 
Subiu na nossa carçada
Se ístícou, gunzou, se ergueu 
Com os óio de cabra morta 
E tirou da nossa porta
O retrato do Romeu.

Eu tava escondida vendo 
E achei aquilo bem chato 
Será que ela tá pensando 
Que rasgando este retrato 
O Romeu fica pequeno
E tem um voto a meno 
Para o nosso candidato?

Eu vi tudo que ela fez 
Porém não quis arengá, 
Mas no momento que vi 
A Peba se retirá , 
Provando que eu sou muié 
Agarrei outro papé 
Preguei no mesmo lugá

Por isso você Medêro
Não se importe com pagode 
Se lembre deste ditado
E com nada se incomode, 
Tudo é farta de respeito, 
"Quem é bom já nasce feito 
Quem qué se fazê não pode"

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