sexta-feira, 1 de julho de 2011

O ALCO E A GASOLINA
(Patativa do Assaré)

Neste mundo de pecado 
Ninguém qué vivê sozinho 
Quem viaja acompanhado 
Incurta mais o caminho 
Tudo que no mundo existe 
Se achando sozinho e triste, 
O alco vivia só
Sem ninguém lhe querê bem 
E a gasolina também 
Vivia no caritó.

O alco tanto sofreu
Sua dura e triste sina
Até que um dia ofreceu
Seu amô a gasolina 
Perguntou se ela queria
Ele em sua companhia,
Pois andava aperriado
Era grande o padecê
Não podia mais vivê
Sem companhêra ao seu lado.

Disse ela: dou-lhe a resposta 
Mas fazendo uma proposta 
Sei que de mim você gosta 
E eu não lhe acho tão feio 
Porém eu sou moça fina, 
Sou a prenda gasolina 
Bem recatada, granfina
E gosto muito de asseio.

Se você não é nogento 
É grande o contentamento 
E tarvez meu sofrimento 
Da solidão eu arranque, 
Nós não vamo nem casá 
Do jeito que o mundo tá 
Nós dois vamo é se juntá 
E morá dentro do tanque.

Se quisé me acompanhá 
No tanque vamo morá 
E os apusento zelá
Com carinho e com amô, 
Porém lhe dou um conseio 
Não vá fazê papé feio 
Quero limpeza e asseio 
Dentro do carboradô.

Se o meu amô armeja
E andá comigo deseja, 
É necessaro que seja 
Limpo, zeladô e esperto, 
Precisa se controlá,
Veja que eu sou minerá 
E você é vegetá,
Será que isto vai dá certo?

Disse o alco: meu benzinho 
Eu não quero é tá sozinho 
Pra gozá do teu carinho 
Todo sacrifiço faço,
Na nossa nova aliança 
Disponha de confiança 
Com a minha substança 
Eu subo até no espaço.

Quero é sê feliz agora 
Morá onde você mora 
Andá pelo mundo afora 
E a minha vida gozá, 
Entre nós não há desorde 
Basta que você concorde 
Nós se junta com as orde 
Da senhora Petrobá.

Tudo o alco prometia. 
Queria por que queriá 
Na Petrobá neste dia 
Houve uma festa danada 
A Petrobá ordenou
Um ao outro se entregou 
E o querozene chorou 
Vendo a parenta amigada.

Porém depois de algum dia 
Começou grande narquia, 
O que o alco prometia 
Sem sentimento negou, 
Fez uma ação traiçoêra 
Com a sua companhêra 
Fazendo a maió sugêra 
Dentro do carboradô.

Fez o alco uma ruína 
Prometeu a gasolina
Que seguia a diciprina 
Mas não quis lhe obedecê 
Como o cabra embriagado 
Descuidado e deslêxado 
Dêxava tudo melado, 
Agúia, bóia e giclê.

A gasolina falava
E a ele aconceiava,
Mas o alco não ligava,
Inxia o saco a zomba
Lhe respondendo, eu não ligo,
Se achá que vivê comigo
Tá sendo grande castigo
Se quêxe da Petrobá.

E assim ele permanece 
No carro a tudo aborrece, 
Se a gasolina padece
O chofé também se atrasa 
Hoje o alco veve assim 
Do jeito do cabra ruim 
Que bebe no butiquim
E vai vomitá na casa.

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