terça-feira, 30 de agosto de 2011


SOBRESSALENTE
(Cândido Portinari)
 
O mar olha-me dia e noite nos abandonamos
Às vezes, somente por alguns instantes
Assiste minha solidão e ao trabalho
A lua vai subindo em nossa frente
Quando se apresenta nitidamente redonda
Parece concentrar os olhos sobre mim
Em cada banco de pedra há mais de um
Casal de namorados. Nunca vivi assim
Fui diferente; fui sempre sobressalente
Em tudo. O que todos tiveram não tive
Às vezes penso ter vindo por engano.
O material usado para me fabricarem,
Lá no infinito, estava destinado a
Realizar folhas de árvores ou ... água.
Por que vieste se nada sentes; me
Habituaria a pensar em ti no silêncio.
Já eras uma fábula. Não ouves o
Que digo. Desconversas sempre.
Quase nada sei de ti e nada
Queres saber de mim.
Sequei como a árvore no campo
O pouco de verde aparenta
Vida. Meus amigos mortos, mais
Vivos e mais estimados.
Só eles me darão vida ...
Estão colocados em minha
Memória com as lembranças
De infância – nuvens brancas
Desfilando: cidades
Se movendo. Vou sobrando nada mais
Existe.
Assim sem alicerce vou afundando
No vácuo.

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